27 dezembro, 2015

NATAL EM CASA DO PICCOLO

Já há alguns dias que cheguei de Itália, por isso não sei se a precisão vai ser a mesma.
Cheguei a Roma na sexta à noite (18 de dezembro) e foram os pais dele que nos foram buscar ao aeroporto. Já tinha estado com eles. Não ia ser o primeiro encontro, mas estava um bocado "coisa". Não falo italiano e conheço a mãe dele: ela fala muito e está muito à vontade comigo. Por isso, isso punha-me mais sem jeito.
Encontramo-los e lá nos cumprimentamos. A mãe dele até me queria cumprimentar primeiro que ao filho. Mas deixei-o estar à minha frente para não o fazer. A mãe sempre sorridente e bem disposta. O pai com um sorriso simpático mas mais calmo (como da última vez). Entramos no carro e comemos pão com mortadela. Que saudades que eu tinha deste cheiro. Não falei muito na viagem. Acho que a vergonha começou a chegar. A viagem foi longa e ainda dormi um bocado. Que soneira!
Ainda no carro e já na vila dele (sem eu saber que já o era), a mãe faz a piada da praça da Concordia, do Arco de Triunfo, da Catedral Notre Dame e de Montmartre à medida que passávamos em certas partes da vila (numa praça, num arco de flores, numa igreja e no topo da vila). Ri-me, sem ter nada para dizer.
Chegamos a casa dele e os avós esperavam-nos. Conheci-os e cumprimentei-os. Muito simpáticos e faladores logo num primeiro contacto.

Sábado combinamos ir à praia. Gaeta. Saímos de casa já à hora de almoço. Passamos em Terracina para almoçarmos num restaurante perto da praia (praça da República) e todos os pratos foram de peixe. Estava bom mas aqueles peixes fritos deixaram-me a arrotar o dia todo. Claro que não disse isso ao meu pequeno, para ele não ficar triste..
Subimos ao monte mais alto desta cidade e tiramos fotos. Paisagem muito bonita com o sol a bater na água do mar... Seguimos para Gaeta. Paramos pelo caminho para tirarmos fotos com o pôr do sol. Em Gaeta íamos ver umas supostas escadas que descem numa falésia até ao mar mas não foi bem isto que encontramos. Realmente descemos as tais escadas mas que nos obrigavam a subir mais à frente. Conclusão: ficamos numa parte alta entre duas falésias a ver o mar. É bonito mas não víamos grande coisa, uma vez que as falésias eram muito altas e tapavam a vista toda. Mas tenho fotos =)
Voltamos para casa e à noite saímos até uns bares numa cidade perto de casa dele (Alatri). Conheci uns amigos dele e ainda me ri com eles. Um deles, segundo o piccolo, era bom para a Célia. Ele ficou interessado (mesmo sem a conhecer) e começou a fazer perguntas sobre ela. Pois, ela só fala português... Nada feito.
Outro, quando me conheceu e soube que eu era a namorada, disse: "Ah, finalmente que a conheço." Gostei de ouvir, claro. Toda contente, a rapariga. E perguntou ao A. se eu estava a ficar em casa dele. Ele disse-lhe que sim ao que o amigo responde: "Então a tua mãe deve estar toda contente!" Eu ainda fiquei mais contente =)
Entretanto passa um amigo dele e faz-lhe uma festa quando o vê. O A. apresenta-mo ao que ele diz "Namorada? Mas quê, é a última?" Desta é que eu não gostei. Ok, faz de conta que não percebes. Depois mandas a boca na melhor oportunidade. O piccolo continua a rir como se ele não tivesse dito nada de mais.
Mais tarde pede ao tal suposto futuro da Célia para lhe puxar o dedo (estava mal da barriga, o rapaz). Ele não percebe mas o A. explica-lhe. Todos se riem e o loiro, que se chama Matteo, pergunta/afirma: não fazes isso com a tua namorada?!
"Como non?" responde o meu pequeno. Que fofinho!
Fiquei contente por conhecer muitos amigos dele. Foram só quatro, mas para ser só numa noite e praticamente sem combinar com ninguém, são muitos.

Domingo, dia de almoço em família. Levantamo-nos cedo e fomos a Fumone ver o castelo com uma lenda de que existem fantasmas. A história é bonita e há duas histórias diferentes para o mito da existência de fantasmas neste castelo. O primeiro é de um antipapa que é posto numa cela muito pequena e que acaba por morrer. O segundo é o filho dos reis (que agora não me lembro dos nomes) que é envenenado pelas sete irmãs mais velhas. A mãe não o sabe e guarda-o num armário com esperança que ele um dia ainda volte.
Almoçamos em casa dos avós. Nossa... Comi tanto. Primeiro prato: gnocchi com molho de tomate e carne de vitela e ovelha (não tenho a certeza). Segundo prato: não me lembro. Sobremesa: bolos - pandoro de chocolate, panetone - e fruta. No fim café. Estava que nem podia. Estava-me a sentir mesmo mal. À tarde fomos até à montanha e as curvas ainda me punham pior. Fez-me bem mexer um bocadinho mas já me sentia como no Natal. Credo!
Na montanha, vimos o pôr do sol e paisagens wow! Que lindo. Como se fossem desenhos. Montanhas redondas com um bocado de nevoeiro a passar-lhes por cima... Mesmo lindo. Tenho fotos.
À noite deveria ser uma noite mais tranquila mas havia um jantar de final de curso de um filho de uma amiga da sogra. Vai tudo ao jantar. Ponho-me todo bonita com a camisola branca de malha que o piccolo me deu e os saltos altos. No jantar conheci a mãe da Alessandra e da Giovanna. O finalista foi o último a chegar e o primeiro a ir embora. Houve uma altura que eu pensei que ele tinha ido à casa de banho. Começam todos a comer o bolo sem esperar por ele e penso "ninguém espera pela personagem principal?" No final do jantar o A. diz-me que ele já se tinha ido embora. Recebemos prendinhas: amêndoas de chocolate e dois frasquinhos com aroma a lavanda e a pimentos. No final do jantar, eu e o A. vamos ver a praça da cidade (Fiuggi).

Segunda feira é dia de dormir até tarde. Os últimos dias foram cansativos e estava mesmo a precisar. Saímos ao final da manhã (acho eu) e levamos pão de pizza com queijo e fiambre. Fomos novamente até à montanha fazer uma caminhada. Como são lindas as vistas. A mesma paisagem do dia anterior mas com mais tempo para apreciar. Tendo em conta que esta zona tem forma circular, nós fizemos meio círculo (ou talvez um pouco mais) no ponto mais alto, ou seja, com direito a vistas diferentes e bonitas. Também tivemos direito a um pouco de neve. Fui com os meus sapatos com sola mais alta. Parti um bocado de uma sola porque não foram feitos para caminhadas e caminhar com estes sapatos na terra dura da montanha não é nada agradável. Uma boa razão para não voltar a pegar nelas. Tiramos muitas fotos. Na descida, passamos em casa dele para ele pegar no computador e ir mandar arranjá-lo. Era suposto irmos até um lago que se podia avistar da montanha mas eu estava muito cansada para isso e ele disse que não tinha nada à volta onde pudéssemos passear. Era o lago e já está. Mais nada. Disse-lhe então que não fazia mal e que também já era tarde (ficamos muito tempo na loja dos computadores). Mas o menino gosta pouco de ir para casa cedo... Nahhh, ele estava era todo contente comigo lá. Mostrava-me tudo, falava de tudo. Em Paris não fala ele assim. Via-se mesmo que estava feliz. E eu estava feliz por vê-lo assim. Em vez de ir para casa fomos a outra vilazinha perto de casa dele que se chama Vico. Uma vilazinha mesmo fofinha. Não estava rodeada de muralhas mas as casas fechavam o espaço e só havia uma entrada. Eram ruínhas que subiam e desciam, em paralelo, com umas casinhas pequeninas, outras maiores, onde se podiam ouvir vozes de pessoas, da televisão ou simplesmente ver as luzes do interior das casas... Muito aconchegante. Claro que ninguém leva ali uma vida, mas para ter paz, não há melhor.
Voltamos para casa e voltamos a jantar nos avós. Primeiro prato: polenta. Segundo prato: Bufala Sobremesa: bolo de nozes e tâmaras e fruta. Eles falavam tanto... Nossa. Cheguei a uma altura que me começou a doer a cabeça e então deliguei um pouquinho. Não percebia e não.... por isso o esforço era desnecessário.
Quando fomos para casa, entrei no facebook para meter uma foto que tinha tirado na montanha. E para isso tive de a enviar para o meu email, entrar no tablet dele, entrar no meu email, descarregá-la e ir busca-las às imagens. E começa aqui a história que quero contar.
O menino tinha uma foto tirada como printscreen no Skype. A foto estava escura e por isso não dava muito bem para ver a cara da rapariga. Já vai ouvir. Entra no quarto, põe-se ao meu lado e vê-me a pôr a foto na net. Vou às imagens e apago a minha foto. Deitamo-nos e digo-lhe:
- Não gostei duma foto que vi no teu Ipad. Mas pronto.
Não ouve. Como não voltei a repetir, pergunta:
- Quê? Não percebi.
Faz sempre isso. Ouve sons saídos da minha boca e não está atento ao que digo. E só quando me calo e ele acha que é suposto responder alguma coisa é que pergunta pelo que eu disse.
- Não gostei duma foto que vi no teu Ipad.
- Que foto?
Pega no Ipad, acende a luz, vais às imagens. Mostro-lhe a foto. Diz-me que já a tinha visto. Sim, tinha visto outras mais acima (mais antigas) mas esta do Skype não. Ou pelo menos não me lembro. Supostamente era a mesma amiga que estava em cima e foi antes de nos conhecermos.
- E porque é que tiraste uma foto com ela no Skype? Ou porque é que fizeste Skype com ela?
- Era para experimentar tirar foto ao que aparece no ecrã.
Depois esteve para lá a explicar que era carregar em dois botões ao mesmo tempo.
- Ok.
Desligamos a luz. Não disse mais nada. Com as mãos, ele procura-me os olhos. Ele sabe que eu sou uma chorona. Mas desta vez não teve sorte. Apesar de triste, não tinha vontade de chorar.
- Hey! O que foi? Já te expliquei. Aquelas fotos estão ali há muito. Daniela! Não estou a perceber.
Fiquei um bocado calado e depois:
- Não sei se foi impressão minha. O teu amigo David perguntou no sábado se eu era a última namorada.
- Oh, O David só diz merda. - disse imediatamente como se estivesse à espera que eu o fosse dizer. - Ele faz isso a toda a gente. Diz coisas sem pensar. O Marco (um amigo dele) até já ficou sem falar com ele algum tempo por causa de uma rapariga porque ele está sempre a mandar bocas. Ele diz as coisas sempre nos momentos em que não as deve dizer. Ele é assim.
- Hum. Mas ao dizer aquilo deu a sensação que tu andas aí a colecionar namoradas.
- Oh Daniela. Olha, se queres saber, tu foste a primeira namorada que ele conheceu. Donc déjà n'y a pas de sense à ce qu'il a dit.
Fiquei calada.
- Mas tu acreditas mais nele que não o conheces do que em mim.
- Não. Eu acredito em ti. Só te estou a falar disto porque ele o disse e eu não gostei.
- En plus, tu es la première copine a venir chez moi.
- Mais non.
- Dormir oui.
Fiquei calada. E não contive as lágrimas. Estar ali a dormir ao lado dele, com os pais a dormir no quarto ao lado, a ser tão bem tratada por todos, amei-o ainda mais. E não consegui dizer nada. Beijei-o na cara e fomos mudando de conversa. Fiquei tão feliz. Quando me disse "boa noite" passou-me a mão na cara e sentiu-a molhada.
- Tu pleures? Tu sues tellement que je ne sais pas si tu pleures ou si tu sues.
Ri-me.

Terça feira levantamo-nos às 6h da manhã. Primeiro que o pai. A mãe já estava a pé mas porque acorda cedo.
Levei o bolo de nozes e tâmaras num tupperware - que sogra mais simpática - mais as amêndoas do domingo. As que levava a mais eram para as minhas irmãs, segundo a mãe dele. Os avós também já estavam a pé e despedi-me de todos. Todos estavam pendurados na varanda a acenar na despedida. Que queridos.
Chegamos ao aeroporto numa hora e meia. O A. entrou no estacionamento e ainda tínhamos 2h para o fecho das portas. Ficamos ali a conversar. Depois levou-me lá dentro, despedimo-nos (7 dias sem nos vermos) e entrei no controlo de metais.
Um aparte. Talvez seja esta história toda dos atentados mas o homem que estava à minha frente na fila para o avião tinha ar de terrorista e fiquei mesmo com medo. Até mandei mensagem ao meu pequeno "Gosto muito de ti. Para o caso do avião não chegar". Chegou.

Resumo destes 3/4 dias:
Fui muito bem recebida. Senti que todos gostaram de mim, mesmo pessoas que não eram da família, como as amigas da mãe. A mãe dele abraçava-me e dizia-me: Dániééééé, bella. E outras coisas mais que eu não percebia. A mãe dele apreciava-me quando eu estava a comer. O pai não me deixava acabar de comer e já me estava a propor mais. Não, por favor. Já comi muito. Adorei, adorei, adorei. O avô falava-me de Portugal, das laranjas com este nome, dos portugueses em Roma que não pagavam e de um rei italiano que foi enviado para Portugal por se portar mal em Itália (pormenores desta história é que eu não sei)

Agora é a vez dele. E só quero que tenha a mesma ou melhor hospitalidade que eu tive em casa dele.